quarta-feira, 24 de março de 2010

DESIGN NÃO É ARTE



Alexandre Amorim dos Reis.


Embora os campos correspondentes a “arte” e “design” utilizem-se de idéias e fontes semelhantes em alguns momentos, há características que definem as distinções entre ambos, situando-os em áreas diferentes e possibilitando a conclusão de que design é uma coisa e arte, outra.

Segundo o dicionário Aurélio, design é a concepção de um projeto ou modelo; um planejamento. Em outras palavras, resume-se a um campo de conhecimento de atuação profissional. Para o dicionário Oxford, no entanto, design é um plano ou esboço concebido por um homem para algo que se queira realizar, onde questionamentos como “o que fazer?”, “porquê fazer?” e “como fazer?” são permitidos e instauram uma espécie de prisão ao campo referido, o que não acontece na arte, onde as possibilidades são infinitas e as preocupações, outras.

Ainda assim, percebe-se que o artista utiliza-se de elementos comuns ao design, assim como o designer utiliza-se de elementos característicos das artes e aí reside o motivo da confusão entre as áreas.

Um objeto funcional pode transformar-se em parte de uma obra de arte, porém, esta não tem caráter utilitário e não objetiva agradar um determinado consumidor, o que a diferencia do objeto meramente funcional criado pelo designer.

Em síntese, o que facilita a compreensão da discussão acerca das distinções entre os dois campos em questão são as finalidades de cada um: enquanto o design se preocupa em criar objetos, produzir e organizar elementos que atendam às necessidades de um cliente ou público-alvo, visando a funcionalidade e as necessidades prévias dos consumidores, a arte, por sua vez, despe-se do compromisso com o seu receptor e engaja-se na expressão do artista, na possibilidade de diversas interpretações e nas necessidades específicas da obra que se deseja produzir.

Outro ponto a ser destacado refere-se ao fato de que no design existe a exigência de um profissional formado e capacitado, além das habilidades comuns à ambas as áreas: criatividade, sensibilidade, etc. Na arte, a formação profissional é importante, mas não é uma prioridade ou necessidade essencial, visto que a valorização se volta para a expressão e para o adequamento dos materiais utilizados na obra (coisa que qualquer pessoa, formada ou não, pode definir).

O design visa criar objetos, produzir e organizar elementos que atendam a necessidades pré formuladas diante de apelos sociais, visando sempre o compromisso com a funcionalidade, “está ligado a satisfação das pessoas” (Kother e Rath – 1984) além de mesclar os avanços tecnológicos com esses contextos sociais e como diz Alexandre “promover satisfação e modificação do comportamento humano”

Para o design, a função estética não pode ser outra que a de estabelecer uma comunicação clara com o publico a que se destina o seu produto, independente do nível cultural que este grupo ocupe na sociedade. Não é a poética do designer que deve estar impregnada em um produto industrial mas um código reconhecível que o publico alvo possa sugerir as qualidades que este produto possua para atender as suas necessidades.

Para concluir, apresenta-se aqui um recorte esclarecedor do livro de Bürdeck (História, Teoria e Prática do Design de Produtos, 2006), onde Michel Erlhoff diz que “design que - diferentemente da arte – precisa de fundamentação prática e acha-se principalmente em quatro afirmações: como ser social, funcional, significativo e objetivo.”

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